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Gerson Marques: Abraçando Mandacaru

Publicamos o artigo do Procurador do Trabalho da 7ª Região, Gerson Marques sobre a discussão do movimento em torno das reformas:

ABRAÇANDO MANDACARU
Gérson Marques (Professor da UFC)

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As reformas trabalhista e previdenciária que o Governo e o capital pretendem realizar no Brasil objetivam disciplinar a vida dos trabalhadores por 50, talvez 100 ou mais anos. Nossos netos e bisnetos serão afetados por elas, recebendo o legado que nossa geração lhes transmitirá. E isso pode consistir em jornadas de 12h, perda do direito de férias, trabalho desenvolvido no seio familiar, invasivamente, intervalo de 15 ou 30min para almoço, salários miseráveis, precarização, aposentadoria fictícia etc. Um retrocesso social sem tamanho.

Algumas entidades sindicais parecem simpatizar com certas propostas das reformas e sentam com seus autores para negociar seus termos. O argumento é o mais frágil possível: a reforma virá, inexoravelmente; então, é melhor negociar os anéis. Trata-se de concepção ingênua, equivocada. Por que a reforma virá? Porque o movimento sindical já a aceitou ao sentar na mesa para discuti-la. Ou seja: abraçou-se com mandacaru. Não atina que o ataque ao movimento sindical se legitimará, e que o próximo alvo, já prenunciado nessas mudanças, serão os direitos sindicais, o direito de greve, pois logo se fragilizará a organização sindical, revogar-se-ão as garantias e se fomentará o ódio do trabalhador contra sua entidade de classe, a qual se tornará desnecessária por não poder defender, ou por defender mal, seus representados.

Negociando as reformas trabalhista e previdenciária, o sindicalismo contribui para que sejam aprovadas efetivamente. As alterações se instalarão, assim, com o DNA sindical. Isso dará legitimidade às mudanças, mas o preço que o sindicalismo pagará será muito alto. Os trabalhadores não perdoarão, especialmente quando forem instigados pelos próprios autores das reformas, mestres que são em estimular o ódio entre as pessoas. Então, o sindicalismo compreenderá os espinhos do mandacaru.

No momento, é melhor que o sindicalismo retorne às bases e ouça o brado dos seus representados, realizando assembleias repetidas vezes ao longo do país e colhendo a opinião dos trabalhadores, já que o Governo não quer ouvi-los. E que informe aos trabalhadores, diariamente, as providências e o encaminhamento dessas questões.